Caros Senhores:
Como o Dr. Marco Vigiliato, sou também médico veterinário. E também sou imunologista há 25 anos, professor da cadeira de Imunologia e ex professor da cadeira de Imunoclínica e Genética Médica da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; advogado, atualmente consultor ad hoc da OAB/SP na questão de leishmaniose visceral canina e venho manifestar o meu completo e irrestrito apoio ao projeto de lei do Deputado Estadual Feliciano Filho, de São Paulo, parabenizando-o, em público, pela bravura e clareza no enfrentamento responsável e ético de uma questão tão séria como a Leishmaniose Visceral (LV).
Infelizmente, o reflexo da LV no Brasil é o reflexo de uma política pública desastrada e atécnica, arquitetada em inverdades e interpretações equivocadas e manipuladas de documentos técnicos, haja vista ser o Brasil o único pais no mundo a promover a eutanásia obrigatória, inconstitucional e totalmente sem resultados, de cães como forma de controle da leishmaniose. Na questão das leishmanioses, o maior perigo não são os cães, mas técnicos despreparados e parciais, que não tem competência técnica ou ética para discutir em profundidade artigos científicos e se escondem sob ordens superiores. O maior problema, volto a salientar, não são as pessoas que não sabem ou não entendem de leishmaniose, mas aquelas que, por terem um título qualquer relacionado ACHAM que entendem de leishmaniose e transformam o combate desta doença em piada de mal gosto e com os resultados medíocres que visualizamos hoje.
Recentemente o próprio Ministério da Saúde contratou uma revisão sistemática sobre a Leishmaniose visceral que, por não dizer o que ele queria, simplesmente ignorou. Gostaria de destacar que o fato se apresenta deste jeito por falta de preparo técnico e científico das entidades representativas para enfrentar a questão de modo correto, através de um debate amplo e irrestrito e IMPARCIAL com profissionais competentes na área (eu disse, NA ÁREA), e não com indicação de pessoas que se acham capazes de interpretar trabalhos científicos para os quais não guardam conhecimentos técnicos e científicos ESPECÍFICOS.
É impressionante como qualquer profissional, atualmente, se coloca com crítica e conhecimento suficiente para avaliar o tratamento e o combate da leishmaniose visceral canina e quanta basbaquice temos que engolir e aturar de pessoas que não conseguem sequer diferenciar um protozoário de uma bactéria, mas que detém um cargo eletivo de categoria e/ou um cargo de confiança (portanto, sem merecimento técnico) em serviço público. Este fato mostra o quanto a Medicina Veterinária brasileira atual está sendo usada ingenuamente por representantes do governo que não tem a mínima noção de leishmanioses e adotam práticas, como a eutanásia de cães, que NÃO SÃO RECONHECIDAS NEM RECOMENDADAS PELA OMS, simplesmente por não terem comprovação científica nem eficácia reconhecida (e não coisa de protetores de animais, enlouquecidos ou irracionais, como o governo gostar de fazer crer).
Ademais, é lamentável a absurda falta de conhecimento e o desinteresse dos profissionais médicos veterinários sobre tema tão relevante, a falta de representatividade imparcial da classe médica veterinária e a falta de humildade em reconhecer a inabilidade do poder executivo em lidar com a LV, o que se pode facilmente constatar pela absurda expansão da leishmaniose
visceral no Brasil. Saliente-se que existem vacinas comercialmente disponíveis para uso animal e um vasto arsenal de medicamentos que podem ser utilizados, bastando para tal somente boa vontade e REAL capacidade técnica para tentar enfrentar o problema.
Somente com a indispensável colaboração entre o poder público, a iniciativa privada (através da classe médica veterinária) e os cidadãos conseguiremos enfrentar e vencer esta e qualquer outra pandemia. Enquanto o poder público se colocar como o dono da verdade (que não é) e como paladino da justiça (que não faz), o Brasil continuará, como está, na retaguarda do combate à leishmaniose.
Mais, gravemente, a questão da LV coloca a profissão e a representação legal da medicina veterinária nacional em grave crise, mostrando o grande despreparo que a classe possui para enfrentar questões relevantes de saúde pública pela falta de imparcialidade, inaplicação de conceitos técnicos, falta de capacidade de atuar como órgão de consulta pública, submissão sem críticas a políticas públicas desastradas e sem lastro internacional e negligência na escolha dos representantes de classe.
Desta forma, fugiria à minha condição de cidadão, médico veterinário, advogado e professor se não conclamasse os colegas a repensar nossas atitudes, a questionar nossa a legitimidade de representação e lutar pela inserção de metodologias internacionais confiáveis para a análise de problemas tão graves como a leishmaniose visceral, única forma de retirar a Medicina Veterinária brasileira do buraco técnico e ético e que se encontra e que a coloca como profissão de categoria subalterna.
É fundamental que as associações de classe dos veterinários, como as ANCLIVEPAS, e as associações e sindicatos do médico veterinários assumam o pólo ativo da discussão, haja vista que os conselhos regionais não são órgãos de representação dos veterinários, mas meros órgãos de fiscalização e consulta. Importante, também, que as ONGs de proteção animal se movimentem, discutam entre si o tema, procurem subsídios técnicos, científicos e éticos dentro e fora do país, e se façam representar nesta discussão, pois os interesses gerais dos animais estão em jogo, mais do que os interesses particularmente defendidos.
Reafirmamos, a Leishmaniose Visceral Canina, no Brasil, não será superada sem a necessária colaboração entre o Poder Público, a iniciativa privada e o cidadão, observadas as normas técnicas e científicas internacionais e mediada por órgãos de representação formados profissionais eticamente capazes e tecnicamente imparciais, inspirados pelo respeito, compreensão e aplicação eficaz da lei e aos direitos dos cidadãos.
André Luis Soares da Fonseca
CRMV/MS 1404
OAB/MS 9131
1 comentários:
Caros Bruna e Dr. André Luis,
É com muita satisfação que quero dividir com vocês que baseado no protocolo do Dr. André minha cocker está 100% curada da LV. Foram 8 meses de tratamento, muitos gastos, mas que valeram muito a pena. Junto conosco nessa batalha esteve o veterinário dela que deu a maior força e agiu com o maior profissionalismo. Essa é a diferença entre um veterinário que ama os animais e apenas mais um veterinário.
Bruna, seu blog me ajudou muito, me ajudou a ter conhecimento da dimensão da batalha que estávamos travando. Ele é de grande utilidade pública. Dr. André, parabéns por não se deixar intimidar pela ignorância governamental.
Grande abraço,
Mari, Rafa e Bella
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