1) Como eu posso saber se meu cão possui leishmaniose?
R: Um diagnóstico acurado de LVC pode ser extremamente difícil, e só deve ser estabelecido após cuidadoso exame físico (clínico) realizado por um médico veterinário, e uma combinação de exames parasitológicos, sorológicos, moleculares e outros complementares.
Devido a essa complexidade de se estabelecer um diagnóstico, recomenda que o proprietário do animal sempre recorra a exames de contraprova, levando o animal em médicos veterinários especializados e de extrema confiança. Isso porque, o Ministério da Saúde recomenda como técnica de diagnóstico os métodos RIFI e o ELISA, que avaliam a soroprevalência da doença. Essa é a chave da controvérsia. Embora esses métodos fazem parte do diagnóstico, eles não podem ser utilizados como ÚNICO determinante da doença, pois a LVC tem um diagnóstico complexo e também, ambos os métodos são passíveis de sofrerem interferência (positiva ou negativo) de outras doenças.
Por isso, para saber se o seu animal tem a doença realize, juntamente com o veterinário, os seguintes procedimentos:
Exames parasitológicos
Os mais comuns são os aspirados de pele ou tecidos, linfonodo e medula óssea. Os exames parasitológicos são fundamentados na demonstração de formas amastigotas de Leishmania nos esfregaços de aspirados de medula óssea e linfonodos, e por aposição de fragmentos de pele ou outros tecidos, ou indiretamente pelo isolamento do parasito, em meio de cultura, a partir de formas amastigotas presentes nestes materiais. Os aspirados de medula óssea e linfonodos são os mais usados pelos clínicos veterinários. A principal desvantagem deste método é a sensibilidade que varia entre 60% a 75% nos aspirados de medula óssea e de 40% a 50% naqueles de linfonodos. O isolamento destes materiais em meio de cultura apropriado para o crescimento de Leishmania é capaz de aumentar a sensibilidade destes testes em cerca de 20%. Estes exames permitem, diante da positividade, o diagnóstico de certeza da infecção. O exame histopatológico de fragmentos da pele e linfonodos podem ser usados como método de diagnóstico, mas deve-se ter em mente que o infiltrado inflamatório encontrado não é específico de LVC e que apenas o encontro das formas amastigotas fornece o diagnóstico de positividade. As técnicas de imuno-histoquímica podem melhorar os problemas relacionados à evidenciação do parasito, pois anticorpos específicos marcados detectam com maior sensibilidade e especificidade as formas amastigotas.
Dentre os vários testes sorológicos utilizados para o diagnóstico da LVC, destacam-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), que em diferentes estudos demonstra sensibilidade variando de 83% a 100%, e especificidade, dependendo da região geográfica em que o teste é aplicado, entre 74% a 100% e o Enzyme Linked Imunosorbent Assay. (ELISA), cuja sensibilidade oscila entre 97% a 100% e especificidade de 88% a 100%, quando são usados antígenos brutos.
A RIFI é considerada o padrão ouro para o diagnóstico sorológico da LV canina, pois além de ser o teste mais utilizado por pesquisadores europeus nos últimos anos, é também a técnica recomendada pelo Office International dês Epizooties (OIE).
Há uma postagem no Blog que esclarece dúvidas sobre a interpretação dos exames sorológicos RIFI e Eliza. Clique aqui e leia na íntegra.
Consiste no PCR, sigla para Reação em Cadeia da Polimerase. Esse diagnóstico molecular baseia na amplificação de uma seqüência conhecida de oligonucleotídeos específicos do patógeno. Este teste é altamente sensível e específico para Leishmania, e apresenta como vantagem sua realização em grande variedade de materiais clínicos, como sangue, aspirados de medula ou linfonodos, biópsias de pele, urina, dentre outros.
Exames complementares
Utilizam-se exames complementares que podem auxiliar nos dados para comprovação da doença. São: o Hemograma, Creatinina, Uréia, Fosfatase Alcalina, Proteínas Totais, Albumina e Globulina.
A anemia é um achado freqüente na doença canina, sendo reportada em cerca de 50 a 70% dos pacientes. As principais causas desta alteração no hemograma seriam: perda sanguínea pela epistaxe e ulcerações da pele, eritrólise, inflamação generalizada e insuficiência renal crônica, hipoplasia ou aplasia medulares.
As contagens, total e diferencial de leucócitos não obedecem qualquer padrão em cães portadores de LV: alguns animais apresentam leucocitose com desvio a esquerda regenerativo enquanto outros apresentam leucopenia (geralmente por neutropenia), ou mesmo perfil leucocitário normal.
Segundo a literatura, a trombocitopenia ocorre entre 29% a 50%%. Esta alteração, entretanto, pode ou não estar associada a alterações no perfil hemostático do animal.
As alterações na atividade funcional dos rins representada pelo aumento das concentrações séricas de uréia e creatinina é um achado relativamente comum em cães portadores de LV. Cerca de 45% destes animais apresentam azotemia
A proteinúria glomerular não-seletiva é encontrada na maioria dos cães portadores de LV. Uma característica marcante da LVC é a disproteinemia sérica, caracterizada, por hipergamaglobulinemia que ocorre na maioria dos cães com LV, podendo alcançar 100 % dos animas infectados.
A composição do perfil eletroforético das proteínas plasmáticas dos cães doentes sofre alterações, principalmente quanto à relação albumina e globulina séricas (A/G). O aumento da concentração no plasma das frações β e γ seria responsável pelo aumento geral das gamaglobulinas; enquanto que a diminuição da albumina seria devido a perdas por nefropatias, doenças hepáticas, subnutrição crônica ou até mesmo a combinação destes fatores
Aumentos na atividade das enzimas hepáticas, bem como aumento nos teores de bilirrubinas, não ocorrem com freqüência nos cães portadores de LV.
Em relação à urinálise, a proteinúria é a alteração mais freqüentemente descrita, variando de cerca de 70% a 100% dos animais portadores de LV, seja em graus discretos ou até mesmo graves. Em alguns animais, a proteinúria pode ser tão grave que chega a determinar alterações nos valores de proteínas séricas normais.
AMUSATEGUI et al.(2003);
BONFANTI & ZATELLI (2004)
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