sábado, 18 de julho de 2009

Diagnóstico da Leishmaniose Canina: como saber e interpretar os resultados

O Blog responde: Leishmaniose

1) Como eu posso saber se meu cão possui leishmaniose?

R: Um diagnóstico acurado de LVC pode ser extremamente difícil, e só deve ser estabelecido após cuidadoso exame físico (clínico) realizado por um médico veterinário, e uma combinação de exames parasitológicos, sorológicos, moleculares e outros complementares.

Devido a essa complexidade de se estabelecer um diagnóstico, recomenda que o proprietário do animal sempre recorra a exames de contraprova, levando o animal em médicos veterinários especializados e de extrema confiança. Isso porque, o Ministério da Saúde recomenda como técnica de diagnóstico os métodos RIFI e o ELISA, que avaliam a soroprevalência da doença. Essa é a chave da controvérsia. Embora esses métodos fazem parte do diagnóstico, eles não podem ser utilizados como ÚNICO determinante da doença, pois a LVC tem um diagnóstico complexo e também, ambos os métodos são passíveis de sofrerem interferência (positiva ou negativo) de outras doenças.

Por isso, para saber se o seu animal tem a doença realize, juntamente com o veterinário, os seguintes procedimentos:

Exame clínico

O diagnóstico puramente clínico torna-se impossível, primeiro porque mais de 50% dos animais soropositivos para a doença são assintomáticos, e segundo porque os sinais clínicos, quando presentes, podem ser confundidos com outras doenças. Mas ele não pode ser descartado, tendo em vista, que a sintomatologia clínica pode colaborar com os métodos laboratoriais. De forma geral, o médico veterinário deverá observar se cão apresenta: sangramento nos calos (tendo em vista que não é normal sangramento nos calos dos cães); feridas pelo corpo que não cicatrizam feridas nas pontas das orelhas; ínguas (caroços) pelo corpo (dorso, coxa, pescoço, etc.); queda de pêlos com falhas; emagrecimento; secreções nos olhos e às vezes no focinho; queda de pêlos em volta dos olhos; dores nas articulações (acontece do cão se machucar e não se curar); babesiose (uma doença transmitida pelo carrapato) que não cura com o tratamento; caspas ou seborréia e crescimento exagerado das unhas.

Exames parasitológicos

Os mais comuns são os aspirados de pele ou tecidos, linfonodo e medula óssea. Os exames parasitológicos são fundamentados na demonstração de formas amastigotas de Leishmania nos esfregaços de aspirados de medula óssea e linfonodos, e por aposição de fragmentos de pele ou outros tecidos, ou indiretamente pelo isolamento do parasito, em meio de cultura, a partir de formas amastigotas presentes nestes materiais. Os aspirados de medula óssea e linfonodos são os mais usados pelos clínicos veterinários. A principal desvantagem deste método é a sensibilidade que varia entre 60% a 75% nos aspirados de medula óssea e de 40% a 50% naqueles de linfonodos. O isolamento destes materiais em meio de cultura apropriado para o crescimento de Leishmania é capaz de aumentar a sensibilidade destes testes em cerca de 20%. Estes exames permitem, diante da positividade, o diagnóstico de certeza da infecção. O exame histopatológico de fragmentos da pele e linfonodos podem ser usados como método de diagnóstico, mas deve-se ter em mente que o infiltrado inflamatório encontrado não é específico de LVC e que apenas o encontro das formas amastigotas fornece o diagnóstico de positividade. As técnicas de imuno-histoquímica podem melhorar os problemas relacionados à evidenciação do parasito, pois anticorpos específicos marcados detectam com maior sensibilidade e especificidade as formas amastigotas.

Exames sorológicos

Dentre os vários testes sorológicos utilizados para o diagnóstico da LVC, destacam-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), que em diferentes estudos demonstra sensibilidade variando de 83% a 100%, e especificidade, dependendo da região geográfica em que o teste é aplicado, entre 74% a 100% e o Enzyme Linked Imunosorbent Assay. (ELISA), cuja sensibilidade oscila entre 97% a 100% e especificidade de 88% a 100%, quando são usados antígenos brutos.

A RIFI é considerada o padrão ouro para o diagnóstico sorológico da LV canina, pois além de ser o teste mais utilizado por pesquisadores europeus nos últimos anos, é também a técnica recomendada pelo Office International dês Epizooties (OIE).

Há uma postagem no Blog que esclarece dúvidas sobre a interpretação dos exames sorológicos RIFI e Eliza. Clique aqui e leia na íntegra.

Exames moleculares

Consiste no PCR, sigla para Reação em Cadeia da Polimerase. Esse diagnóstico molecular baseia na amplificação de uma seqüência conhecida de oligonucleotídeos específicos do patógeno. Este teste é altamente sensível e específico para Leishmania, e apresenta como vantagem sua realização em grande variedade de materiais clínicos, como sangue, aspirados de medula ou linfonodos, biópsias de pele, urina, dentre outros.

Exames complementares

Utilizam-se exames complementares que podem auxiliar nos dados para comprovação da doença. São: o Hemograma, Creatinina, Uréia, Fosfatase Alcalina, Proteínas Totais, Albumina e Globulina.

A anemia é um achado freqüente na doença canina, sendo reportada em cerca de 50 a 70% dos pacientes. As principais causas desta alteração no hemograma seriam: perda sanguínea pela epistaxe e ulcerações da pele, eritrólise, inflamação generalizada e insuficiência renal crônica, hipoplasia ou aplasia medulares.

As contagens, total e diferencial de leucócitos não obedecem qualquer padrão em cães portadores de LV: alguns animais apresentam leucocitose com desvio a esquerda regenerativo enquanto outros apresentam leucopenia (geralmente por neutropenia), ou mesmo perfil leucocitário normal.

Segundo a literatura, a trombocitopenia ocorre entre 29% a 50%%. Esta alteração, entretanto, pode ou não estar associada a alterações no perfil hemostático do animal.

As alterações na atividade funcional dos rins representada pelo aumento das concentrações séricas de uréia e creatinina é um achado relativamente comum em cães portadores de LV. Cerca de 45% destes animais apresentam azotemia

A proteinúria glomerular não-seletiva é encontrada na maioria dos cães portadores de LV. Uma característica marcante da LVC é a disproteinemia sérica, caracterizada, por hipergamaglobulinemia que ocorre na maioria dos cães com LV, podendo alcançar 100 % dos animas infectados.

A composição do perfil eletroforético das proteínas plasmáticas dos cães doentes sofre alterações, principalmente quanto à relação albumina e globulina séricas (A/G). O aumento da concentração no plasma das frações β e γ seria responsável pelo aumento geral das gamaglobulinas; enquanto que a diminuição da albumina seria devido a perdas por nefropatias, doenças hepáticas, subnutrição crônica ou até mesmo a combinação destes fatores

Aumentos na atividade das enzimas hepáticas, bem como aumento nos teores de bilirrubinas, não ocorrem com freqüência nos cães portadores de LV.

Em relação à urinálise, a proteinúria é a alteração mais freqüentemente descrita, variando de cerca de 70% a 100% dos animais portadores de LV, seja em graus discretos ou até mesmo graves. Em alguns animais, a proteinúria pode ser tão grave que chega a determinar alterações nos valores de proteínas séricas normais.

Fontes:

AMUSATEGUI et al.(2003);

BONFANTI & ZATELLI (2004)




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