sábado, 18 de julho de 2009

A eutanásia de cães com Leishmaniose não é obrigatória e eficaz

O Blog responde:


1) Acompanho sempre notícias sobre a LVC. E vejo que a maioria da população é contra a eutanásia dos cães, pois segundo alguns dados, não tem incidência/correlação ou a eutanásia não interfere de modo relevante na ocorrência de casos humanos. Se a eutanásia não funciona, e muita gente critica, fico me perguntando quais medidas funcionarão então?

R: Em virtude das características epidemiológicas e do conhecimento ainda insuficiente sobre os vários elementos que compõem a cadeia de transmissão da LV no Brasil, associado a questões de ordem operacional, as estratégias de controle desta endemia têm se mostrado pouco efetivas. As estratégias hoje, contidas no manual do Ministério da Saúde são:

- Diagnóstico e tratamento precoce dos casos humanos,

- Redução da população de flebotomíneos vetores,

- Eliminação dos reservatórios domésticos (cães),

- Atividades de educação em saúde.

No entanto, observa-se que das estratégias acima propostas, a de maior atuação é a eutanásia e em segundo plano, ou como plano emergencial, a redução da população de vetores e educação populacional. Invertem-se as estratégias. Muitos proprietários reclamam que nunca foram alertados sobre a doença nos seus municípios, nunca tiveram a visita de agentes instruindo-os ou verificando possíveis focos do vetor ou até mesmo levando o simples conhecimento da prevenção. Ao contrário, a mobilização se dá no inquérito canino, de forma bruta e irresponsável. Isso se dá quando a doença já atingiu os humanos.

Segundo Dietze et al. (1997), entre os anos de 1990 e 1994, quase cinco milhões de cães foram submetidos a exames sorológicos e mais de 80.000 animais sacrificados no Brasil, entretanto, a doença humana aumentou em quase 100% no mesmo período. A expansão da doença canina, associada aos conhecimentos insuficientes dos elementos que compõem a endemia, levam as autoridades sanitárias a direcionarem o controle desta zoonose para a população canina, amparando-se no inquérito sorológico e na eutanásia dos animais soropositivos.

O programa de eliminação de cães soropositivos apresenta o menor suporte técnico-científico dentre as demais medidas propostas pelo programa de controle, quer pela falta de correlação espacial entre a incidência de LVH e a soroprevalência canina, quer pela pouca eficiência da medida comparada ao controle do vetor. Somente esta medida não é suficiente para o controle da LVH e da LVC, mesmo quando são utilizadas técnicas sorológicas mais sensíveis e redução do intervalo entre o diagnóstico e a remoção dos cães soropositivos. Corrobora com isso, a alta a taxa de reposição dos animais seguida ao sacrifício dos cães soropositivos, seja por filhotes susceptíveis ou por outros cães já acometidos pela infecção. Estes fatos têm contribuído para a ineficácia das medidas de controle, associados a outros fatores de ordem operacional.

Portanto, em resumo, os principais fatores relacionados ao insucesso das medidas de controle da LV seriam:

- a falta de padronização dos métodos de diagnóstico da infecção humana e canina;

- a discordância entre os estudos que avaliam o impacto da eliminação de cães soropositivos na prevalência da infecção humana; a demonstração de que outros reservatórios poderiam ser fontes de infecção de L. chagasi, como os canídeos silvestres e os marsupiais;

- a escassez de estudos sobre o impacto das ações de controle dirigidas contra os vetores;

- as leis e portarias que proíbem as movimentações referentes a pesquisas sobre tratamento, o descaso do Governo com o papel dos animais para os humanos, as arbritariedades e denúncias dos agentes e CCZ´s, etc.

Por isso, alguns autores sugerem como medidas viáveis e corretas:

- o uso de vacinas profiláticas, quer seja para uso animal, quer seja para uso humano, como ferramenta para substituir o sacrifício dos cães portadores de L. chagasi e diminuir a incidência de LVH;

- o uso de coleiras impregnadas com repelentes a base de deltametrina ou formulações tópicas a base de permetrina;

- medidas de vigilância sanitária e ambiental, planejamento urbano voltado para a definição de áreas de ocupação, levando em consideração a possibilidade de transmissão da leishmaniose,

- a introdução de um programa de educação em saúde voltada para a posse responsável do cão, visando o envolvimento da população, bem como o envolvimento da academia com o serviço público no sentido do aprofundamento dos estudos objetivando definir o papel do cão na cadeia de transmissão;

- controle de natalidade de animais errantes e domésticos, como programas de esterilização/castração;

- Na Europa, autores têm demonstrado a eficácia do tratamento da LVC na redução da prevalência da doença canina em regiões onde ele é utilizado como forma de controle, e até neutralização da capacidade infectante de cães tratados, por meio de exames imunohistoquímicos da pele e xenodiagnósticos negativos

Fontes:

WERNECK,G.L.; et al.Avaliação da efetividade das estratégias de controle da Leishmaniose Visceral na cidade de Teresina,Estado do Piauí,Brasil:resultados do inquérito inicial-2004.

AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS POR Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937), SUBMETIDOS A UM PROTOCOLO TERAPÊUTICO EM CLÍNICA VETERINÁRIA DE BELO HORIZONTE.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de vigilância em saúde. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral.

MIRÓ, G.; GÁLVEZ, R.; MATEO, M.; MONTOYA, A.; DESCALZO, M. A.; MOLINA, R. Evaluation of the efficacy of a topically administered combination of imidacloprid and permethrin against Phlebotomus perniciosus in dog. Vet. Parasitol., 2006.

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