sábado, 18 de julho de 2009

Gravidez e leishmaniose

Dúvidas dos leitores.

1) Estou grávida de 8 meses e gostaria de saber se corro algum risco caso o meu cachorro esteja com leishmaniose. E se eu estiver com doença (embora saiba que o cão não transmite diretamente), meu bebê corre algum risco?

R: Como você mesma afirmou, não há risco de transmissão da Leishmaniose do seu cão para você. A doença é transmitida pelo mosquito conhecido como palha. Confira as outras postagens sobre a forma de transmissão para saber mais sobre o ciclo da doença e a forma de prevenção.

Agora, vamos supor que você, grávida, tenha um diagnóstico comprovado da doença. Consultando a literatura, pode-se dizer que há apenas seis relatos no mundo de transmissão congênita. A hipótese mais aceita é que a transmissão ocorra por leucócitos infectados que atravessam a placenta, ou pelo contato do sangue materno durante o parto.

No Brasil e no mundo, há poucos relatos de LV em gestantes, sendo que, dos disponíveis, a procedência dos casos é de regiões sabidamente endêmicas para a doença, pois não existe estimativa de Leishmaniose em gestantes, principalmente em função de poucas publicações de casos, mesmo de áreas endêmicas.

Caldas et al. cita que o primeiro caso relatado de LV em gestante foi de Low e Cooke, em 1926, de uma gestante africana, com seu recém-nascido apresentando sinais e sintomas de LV, confirmado posteriormente como sendo de TV. Em 1955, outro caso foi relatado na Inglaterra, de gestante que tinha residido na Índia, também com a criança tendo manifestações clínicas e confirmação laboratorial no sétimo mês de vida. O primeiro relato de LV nas Américas data de 1913, no Paraguai, de paciente proveniente do estado de Mato Grosso.

Em 1999, Meinecke et al. chamaram a atenção por relatar um caso de transmissão vertical de LV, estando a gestante assintomática. Neste caso, a criança passou a apresentar sinais e sintomas compatíveis com a leishmaniose com 16 meses de vida, sendo que nunca tinha estado em região endêmica e não havia vetores onde residia. Contudo, sua mãe esteve em países do Mediterrâneo, endêmicos de LV, sem, no entanto, ter apresentado manifestações clínicas, todavia apresentava sorologia e teste de Montenegro positivos.

Na América do Sul, a LV em gestantes é considerada rara, devido aos poucos trabalhos disponíveis relatando estes casos, conforme recente revisão sobre calazar e gravidez. No Brasil, principalmente em áreas urbanas e periurbanas, o aparecimento de LV entre gestantes começa a tornar-se mais freqüente. O primeiro caso foi relatado em1993. Seqüencialmente, outros casos foram relatados como Moraes et al., em 1995 citado por Viana et al.

Recentemente, em 2003, Caldas et AL., relataram mais um caso de LV durante a gravidez. Foram citados dois casos de LV em gestantes no Estado do Maranhão, cujos sintomas apareceram no segundo mês e no sétimo mês de gestação, com o diagnóstico confirmado pela presença de formas amastigotas no aspirado de medula óssea. O tratamento utilizado foi com antimonial pentavalente 20 mg/kg/dia por 20 dias e as crianças nascidas, seguidas laboratorialmente por seis meses, tiveram negativos os testes de imunofluorescência indireta.

Ainda existe discussão quanto à toxicidade das drogas utilizadas para o tratamento da doença durante a gestação, e os medicamentos disponíveis não são considerados seguros para o uso durante a gravidez. Todavia, o risco materno-fetal é elevado nos casos de LV durante a gestação, aumentando a morbimortalidade materna e fetal, sem a instituição de terapêutica adequada. Desse modo, apesar de não haver concordância sobre a segurança dos medicamentos antileishmânia na gravidez, o tratamento de gestantes com LV está indicado, uma vez que o risco de mortalidade materna e fetal em situações de não tratamento específico pode atingir índices próximos a 90% em confirmação da transmissão congênita.

Fonte: Leishmaniose visceral em adolescente gestante in: Revista de Ciências Médicas, Salvador, v.6, n.3, p. 357-361, set./dez. 2007. Autores: Maaria L. Vieira; Ronaldo R. Jacobina e Neci M. Soares


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