ENTREVISTA COM O DR. FRED JULIÃO SOBRE A LEISHMANIOSE
13/06/2011 16:50
13/06/2011 16:50
Palestrante da primeira noite do simpósio, Dr. Fred da Silva Julião é graduado em Medicina Veterinária (1999) e Mestre em Ciência Animal nos Trópicos (2004), ambos pela Universidade Federal da Bahia. Doutor em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa, área de concentração em Epidemiologia Molecular e Medicina Investigativa pela FIOCRUZ/Bahia (2011). Professor do Instituto Federal Baiano, Campus Santa Inês, lecionando para os curso superior de Zootecnia e Técnico em Alimentos.
CRMV-BA: Quais os maiores desafios para os médicos veterinários que lidam com a Leishmaniose?
Dr. Fred Julião: A leishmaniose é uma doença que tem preocupado extremamente a comunidade veterinária, em especial os clínicos de cães e gatos. A gente tem hoje como um grande desafio a recomendação do Ministério da Saúde, que é o sacrifício e a proibição de tratamento desses animais, especificamente os cães, através de uma portaria interministerial. E com isso existe aquela história de a gente se sentir, muitas vezes, limitado na nossa possibilidade de atuação profissional. Acredito que o grande desafio seja justamente esse: o veterinário ser, de certa forma, até coagido a ceifar a vida dos seus pacientes em prol de uma portaria, com a recomendação do sacrifício e eutanásia.
CRMV-BA: Como o senhor vê o cenário atual da doença no nosso estado?
Dr. Fred Julião: A leishmaniose é uma doença que tem se expandido no estado. Na verdade, ela tem se expandido no Brasil inteiro e poderia dizer que ela tem se expandido, territorialmente, no mundo. A Bahia tem sérios problemas. Muitos têm a visão de que o nordeste tem 90% dos casos humanos de leishmaniose; isso era o que acontecia na década de sessenta, oitenta. Hoje a gente tem menos de 50%, segundo informação do próprio Ministério da Saúde. Para aqueles que só olham os números, faz parecer que tem diminuído, e não é isso. O resto do Brasil, principalmente a região sudoeste, tem sofrido muito com a doença. O número de municípios que passaram a apresentar casos de leishmaniose tem aumentado no nosso estado. Os poderes públicos, embora continuem agindo e trabalhado na tentativa de controlar a leishmaniose visceral, ainda tem perdido a briga porque a doença tem se expandido territorialmente.
CRMV-BA: Qual a importância de se discutir a leishmaniose num simpósio como esse?
Dr. Fred Julião: Eu formei no ano 2000 e tive a oportunidade de trabalhar com um dos grandes nomes da pesquisa de leishmaniose aqui no estado, que foi dr. Ítalo Sherlock. Naquela época quase não se falava de leishmaniose visceral, tanto na Medicina Veterinária como na clínica de cães e gatos. Hoje é uma realidade completamente diferente. Estamos em 2011 e o número de casos tem aumentado absurdamente. Vários trabalhos, inclusive os feitos em Salvador, têm mostrado que mais de 50% das clínicas diagnosticou nos últimos doze meses a leishmaniose visceral canina. Então, um simpósio como esse que está acontecendo aqui em Feira de Santana é algo que precisa ser levado para outras regiões do estado. Nós temos um estado muito grande e a doença está em praticamente todas as suas regiões. Precisamos propagar novos encontros como esse e trazer pessoas, como é o caso de Dr. Vitor Ribeiro, que é especialista na área, para que a gente possa, assim, fazer uma teia de conhecedores da leishmaniose, começar a criar mais força para discutir as idéias para que possam ser propostas ao Ministério da Saúde.
CRMV-BA: Existe solução para leishmaniose?
Dr. Fred Julião: Existe. Conhecimento e determinação naquilo que é buscar realmente como deve ser feito. Algo que coloquei na minha palestra e que acho que é fundamental: mais importante não é saber se é a favor ou se é contra a eutanásia dos cães, mas saber até onde médico veterinário pode agir e qual a autonomia esse médico veterinário tem na sua profissão.
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