O Blog responde: O problema do proibido
Por que as pessoas insistem em tratar a leishmaniose burlando a lei? Elas só irão parar quando alguém da família delas pegar a doença. Dai sim vão entender! Se o seu pai ou a sua mãe tivesse a doença você iria continuar apoiando o tratamento nos cães?
A questão da ‘proibição’ (em aspas porque uma Portaria não é uma lei) do tratamento da Leishmaniose canina no Brasil toma contornos indesejados. Uma pequena navegada em fóruns e debates sobre o tema, nos deparamos com muitos profissionais discutindo protocolos de tratamento, direito animal, importação de drogas de outros países, compra de medicamentos e pedidos de socorro.
A proibição tratamento traz consequencias negativas sérias:muitos têm lucrado com a doença, desprezando o afeto das famílias, simplesmente pelo ganho fácil; inúmeros protocolos são realizados sem acompanhamento de médico veterinário responsável; drogas são compradas sem nota fiscal por proprietários desesperados; muitos cães são abandonados por desconhecimento da população sobre a forma de transmissão;etc.
O tratamento deve ser realizado, mas acima de tudo de forma responsável. O animal deve ter um acompanhamento sério.
A leishmaniose é uma zoonose grave e o fato de médicos veterinários e proprietários de animais recorrem a alternativa do tratamento não está ligado à falta de responsabilidade, descumprimento da lei ou despreocupação com a saúde pública. Muito pelo contrário. Quando uma família se recusa a fazer a eutanásia do bichinho e busca o tratamento, que é feito por vários clínicos, ela está mostrando que é responsável, primeiro pela vida do ser que acolheu no seio familiar, segundo, porque acredita no trabalho do profissional que procura, e por fim, mais que tudo isso, nenhum tipo de amor pode excluir o outro, isto é, cães e humanos podem coexistir mesmo sendo aqueles participantes de uma cadeia de transmissão de doenças! Tudo o que é vida deve ser cuidado. Você pode colocá-los na ordem de importância que desejar, mas não pode ignorar nenhum deles. Seria muito simplista pensarmos que nossa espécie poderia sobreviver se dedicássemos apenas aos seres humanos os nossos esforços e cuidados. Você sobreviveria com água e ar poluídos? E olhe que esses elementos nem vivos são. Não vivemos numa redoma de vidro. Quanto mais bem-estar distribuírmos, melhor será a nossa existência. E quando você ajuda um ser, ajuda o outro também. Nenhum amor pode excluir o outro. Nem um tipo de amor é maior que o outro, para que eu possa decidir entre um ou outro. Em caso de animais e humanos, quando você faz um trabalho com cães, através de campanhas de vacinação e castração gratuitas ou a baixo custo, tratamento de animais doentes, etc, está contribuido para que crianças e adultos, especialmente os mais carentes, podem conviver com seus animais de forma saudável e segura. E já provamos que a eutanásia de cães como medida de controle da Leishmaniose não tem eficácia. Ou seja, te apresento dois motivos: o do amor e o da razão. Você não precisa escolher entre um outro. Ambos motivos existem. Seu cão pode estar contaminado com LVC e sua família pode estar em plena segurança!
Me apropriando das sábias palavras do advogado, Dr. Rogério S.F. Gonçalves,
“ O movimento dos direitos dos animais, ergue-se como uma parte de, e não à parte, do movimento dos direitos humanos. A mesma filosofia que insiste nos direitos dos animais não humanos e os defende, também insiste nos direitos dos seres humanos e os defende. Em termos práticos, além do mais, a escolha que as pessoas enfrentam não é entre ajudar humanos ou ajudar animais. Podemos fazer ambas as coisas. As pessoas não precisam comer animais para ajudar os desabrigados, por exemplo, tal como não precisam usar cosméticos que foram testados em animais para ajudar as crianças. De fato, as pessoas que respeitam os direitos dos animais não humanos, ao não os comerem, serão mais saudáveis, caso em que terão mais capacidades para ajudar seres humanos (…)Nós não afirmamos que os humanos e os animais sejam iguais em todos os aspectos. Por exemplo, nós não estamos dizendo que os cães ou os gatos possam resolver problemas matemáticos, ou que os porcos e as vacas possam apreciar poesia. Aquilo que nós estamos afirmando é que, tal como os humanos, muitos outros animais são seres psicológicos, com uma experiência própria de bem-estar. Neste sentido, nós e eles somos análogos. Neste sentido, portanto, e apesar das nossas muitas diferenças, nós e eles somos iguais (…) Nós não dizemos que os humanos e os outros animais têm sempre os mesmos direitos. Nem sequer todos os seres humanos têm os mesmos direitos. Aquilo que nós dizemos é que estes e outros humanos partilham um direito moral básico com os outros animais – nomeadamente, o direito a serem tratados com respeito à vida (…) Existem muitas situações nas quais um indivíduo que tem direitos não é capaz de respeitar os direitos de outros. Isto é verdade para bebês, crianças pequenas, e seres humanos mentalmente debilitados ou com perturbações mentais. No caso deles nós não dizemos que é correto tratá-los desrespeitosamente porque eles não honram os nossos direitos? Pelo contrário, nós reconhecemos que temos o dever de os tratar com respeito, apesar deles não terem qualquer dever de nos tratar da mesma forma. Aquilo que é verdade nos casos de bebês, crianças, e dos outros humanos referidos, não é menos verdade nos casos que envolvem animais; reconhecidamente, estes animais não tem o dever de respeitar os nossos direitos. Mas isto não elimina ou diminui a nossa obrigação de respeitar aos deles.”
“Eu sou a favor dos direitos dos animais tal como dos direitos humanos. Esse é o caminho de um ser humano completo” – Abraham Lincoln
Honre diariamente sua escolha e quando lhe fizerem essa pergunta “por que ajudar os cães ao invés de humanos”, responda com a calma e elegância própria daqueles que por convicção acreditam no que fazem.
“A questão não é, ‘Podem eles racionalizar?’ nem ‘Podem eles falar?’ mas ‘Podem eles sofrer?’” – Jeremy Bentham
A pior falta diante dos animais não é odiá-los, mas ser indiferente para com eles; esta é a essência da desumanidade - George Bernard Shaw, escritor e crítico irlandês.
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